Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: Entrevista com Melina de Lima
No mês o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha completa 30 anos, a ADPERGS conversou com a historiadora Melina de Lima, e neta da ativista Lélia Gonzalez, sobre o 25 de julho e o legado deixado por tantas mulheres.
A Associação das Defensoras e dos Defensores Públicos do RS também lançou a primeira edição do Prêmio ADPERGS de Direitos Humanos, em homenagem à ativista e intelectual brasileira Lélia Gonzalez, no mesmo mês do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
As inscrições para o Prêmio ADPERGS de Direitos Humanos – Lélia Gonzalez estão abertas até o dia 28 de outubro. Inscreva-se aqui.
Confira a entrevista abaixo.
ADPERGS – Melina, qual é o principal legado deixado por Lélia Gonzalez para todos nós? E para você, enquanto neta de Lélia?
Melina de Lima – Buscar o conhecimento para balançar as estruturas. Minha avó lutou e viveu para apontar o quão estruturado é o racismo brasileiro e mundial. Ao se especializar em várias áreas conseguiu esmiuçar o racismo, apontar o pacto da branquitude(que quer nada mais, nada menos que continuar no topo). Reconhecia que a cultura era uma forma de se emancipar, que precisamos ter orgulho das nossas origens, dos nossos ancestrais e que chegarmos onde quisermos é um direito nosso. Mostrou também que cada luta tem sua especificidade, mas que precisamos lutar juntos. Eu, como mulher preta, me orgulho demais de ser neta dessa potência, e Lélia Gonzalez Vive em nós.
ADPERGS – Lançamos o Prêmio ADPERGS de Direitos Humanos oficialmente no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que também homenageia mulheres como Lélia Gonzalez. Poderia falar um pouco sobre a história e importância do 25 de julho?
Melina de Lima – O dia foi definido em decorrência do Encontro de Mulheres Afrolatina-Americanas e Caribenhas no ano de 1992, em Santo Domingo, República Dominicana. Nesse encontro ficou definida a data do dia 25 de julho como o dia de celebrar a importância das mulheres na construção do nosso continente. Dilma Rousseff, em 2014, então presidente do Brasil, sancionou a Lei n° 12.987 que determinou o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza de Benguela foi uma mulher quilombola, rainha e chefe de estado, que viveu no século XVIII no Vale do Guaporé. Ela liderou o Quilombo de Quariterê, no estado do Mato Grosso, que resistiu da década de 1730 até o final do século.
ADPERGS – Qual a importância do conceito de amefricanidade, cunhado por Lélia Gonzalez, para a compreensão da formação histórico-cultural da América?
Melina de Lima – Reconhecermos a influência dos povos originários e dos descendentes de africanos na construção do nosso continente é fundamental. Amefricanidade é isso. Esse apagamento do papel desses povos é feito justamente para uma manutenção de poder. Não foram somente os colonizadores que influenciaram culturalmente a construção da América. Lélia então vai além, e chama América Latina de AMÉFRICA LADINA. E o conceito de PRETUGUÊS segue essa mesma lógica, é o português com influência africana.
ADPERGS – No Brasil, a data também é uma homenagem à Tereza de Benguela. Qual é a importância de preservar a história e memória de mulheres como Tereza e Lélia Gonzalez?
Melina de Lima – Sabermos e reconhecermos nossa história é muito importante para entendermos, por exemplo, a estruturação do racismo. Para combatermos um mal, precisamos reconhecê-lo. Essas mulheres viveram e lutaram para uma mudança acontecer, e o conhecimento real dos fatos gera mudanças. Então precisamos da história delas, do legado delas.